quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Tabelão do Brasilerão 2011

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~ Vi muitas pessoas comentando que o título do Corinthians foi injusto. Me pergunto como um título pode ser injusto se todos os times se enfrentam duas vezes, com cada clube sendo mandante de uma partida, mas tudo bem. O que aconteceu com o Corinthians foi algo que não tínhamos visto até hoje: o sprint (período no qual a equipe é praticamente imbatível) foi dado no início, e não no final do campeonato. Nos primeiros nove jogos da equipe no campeonato, foram oito vitórias e um empate, algo incrível. Essa sequência deu ao Corinthians uma "gordura", que a equipe apenas controlou ao longo do campeonato, sobretudo no segundo turno, quando o nível técnico da equipe caiu consideravelmente.
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~ Antes do Brasileirão começar, o Corinthians era um turbilhão. Pela primeira vez uma equipe fora eliminada da Libertadores antes da fase de grupos. Uma imensa crise se abateu, que cresceu ainda mais após a final de Paulistão perdida para o Santos. O clube (e aqui incluo todos, do técnico Tite ao presidente Andrés Sanchez) soube como lidar com tal período turbulento, e deu a volta por cima ao final do campeonato.
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~ Enquanto o Corinthians via seu futebol ruir, outra equipe crescia vertiginosamente. O Vasco da Gama foi a equipe que mais despertou paixões esse ano com seu futebol raçudo e equilibrado. Com jogadores do calibre de Dedé, Juninho Pernambucano, Fernando Prass, Felipe e Diego Souza, faltou pouco para os cruzmaltinos conseguirem o penta, dez anos após o último título brasileiro da equipe.
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~ O Vasco foi um capítulo a parte no Brasileirão. Roberto Dinamite pode ter seus vários defeitos e não ter a força política de seu antecessor na presidência do clube, Eurico Miranda, mas é uma pessoa idônea e que já fez muito pelo futebol com seu caráter, e não na base da truculência. O time teve alguns vexames ao longo do ano, mas soube se reerguer como ninguém - e quando ninguém esperava. Após começar passando vergonha no campeonato carioca (foi o primeiro grande a perder três vezes seguidas para equipes pequenas na história do torneio), o ano encerra-se com um vice no brasileiro, a final da Taça Rio perdida nos detalhes para o Flamengo, uma campanha honrosa na Sul-Americana, na qual ficou na semifinal, e, sobretudo, com o título da Copa do Brasil. O título do ressurgimento do Vascão, de uma torcida carente e apaixonada, de um clube que volta a impor respeito com sua listra diagonal e sua cruz de malta no peito.
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~ Ainda sobre o Vasco: é impossível não citar Ricardo Gomes. Após as já citadas três derrotas para pequenos no carioca, PC Gusmão foi demitido e a diretoria contratou Ricardo Gomes. Após uma passagem muito contestável pelo São Paulo, Gomes encontrou a paz, os títulos e um ambiente perfeito para ele no Vasco. Ajeitou o time ainda no estadual (a ponto de ser osso duríssimo para o campeão Flamengo na final da Taça Rio), venceu a Copa do Brasil contra um brilhante Coritiba e soube guiar a guinada cruzmaltina no Brasileirão após o final da competição. No clássico dos milhões, contra o Flamengo, na última rodada do primeiro turno do nacional, Gomes sofreu um AVC hemorrágico, que o deixou em estado grave. Ele melhorou e viu seu auxiliar, Cristóvão Borges, prosseguir trabalho à frente da equipe, quase quase venceu o segundo título nacional no ano. Mais que um trabalho e um projeto, foi uma linda história, escrita com fé e superação.
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~ O Ano do Fluminense pode ser dividido em antes e depois de Abel Braga. Antes, confusões com Emerson Sheik, que teria cantado o "bonde do Mengão sem freio" na concentração contra o Argentinos Juniors pela Libertadores, e a tumultuada saída de Muricy Ramalho, que reclamou da estrutura do clube e ouviu de Peter Siemsen, presidente recém-eleito, que teria investimentos, mas viu dinheiro sendo gasto no elenco - o que causou a saída de Muricy, enquanto os tricolores pensam que ele apenas precisava de algo para assumir o Santos. Se com Abel as confusões continuaram (incidentes com torcidas organizadas e com o atacante Fred ocorreram), os resultados apareceram. O time, então, seguiu como em 2010: capaz de protagonizar milagres (como as vitórias contra Argentinos Juniors, na Argentina, e Grêmio, no Rio de Janeiro) e vitorioso, com a terceira colocação no Brasileirão e mais um ano de Libertadores na bagagem.
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~ O ano do Flamengo foi cheio de fases. O time ia invicto, com direito a título sem derrota do campeonato carioca, até o dia 5 de Maio. A estranhíssima derrota do rubro-negro pro Ceará, no Engenhão, pela Copa do Brasil, causou uma imensa instabilidade na equipe - além da eliminação da Copa. Para reagir, mais de dez jogos depois, a equipe contou um partidas espetaculares de Ronaldinho Gaúcho. No saldo disso tudo, quarta colocação no brasileiro e pré-Libertadores garantida.
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~ Para os torcedores das grandes equipes brasileiras, apenas o título estadual não basta. Imagine então uma equipe que venceu duas Libertadores da América e um Mundial de Clubes em quatro anos ? O Internacional ganhou o Gauchão, mas a eliminação em pleno Beira-Rio ante o Peñarol da Libertadores da América gerou uma grande crise no colorado, que só foi sanada com a saída do ídolo Paulo Roberto Falcão e a chegada de Dorival Jr. Com Dorival o Inter se estabilizou e conseguiu a última vaga na Libertadores da América. Quinta posição para os gaúchos.
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~ Um time cheio de estrelas jovens que começa o campeonato como um rolo compressor. De quebra, falamos do maior vencedor de campeonatos nacionais da atualidade. De botar medo, não ? Não. O São Paulo foi o maior cavalo paraguaio do ano. Sonhava enfrentar o Santos de Neymar e tomou um couro na semifinal do Paulistão - 2x0 para o Peixe ficou barato. Na Copa do Brasil, conseguiu o impensável e passou vexame na Ressacada, ao ser eliminado pelo Avaí com um categórico 3x1. No Brasileirão, o ótimo início foi ofuscado após os humilhantes 5x0 no Majestoso contra o Corinthians. Dali até o final, mais baixos que altos, com direito a demissão de Paulo César Carpegiani, uma desastrada contratação de Adílson Batista, a demissão do mesmo e a contratação de Emerson Leão. Nem o linha-dura deu jeito, mas ele vai permanecer para o próximo ano. Elenco o tricolor tem, resta saber como ele vai render. A sexta colocação rendeu apenas uma vaga na Copa Sul-Americana.
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~ O Figueirense foi a maior surpresa positiva do Brasileirão, de longe. Após ir mal no campeonato catarinense, o Furacão do Estreito contratou Jorginho, ex-auxiliar de Dunga, para comandar a equipe. Com um time de refugos, jovens jogadores e nenhuma estrela, o Figueira conseguiu um brilhante sétimo lugar, lutando pela Libertadores até o final do campeonato e fazendo do Orlando Scarpelli um caldeirão.
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~ Aliás, fica a pergunta: a Globo foi prejudicada pelo esquema nazista de Dunga no combate ao estrelismo dos jogadores ao longo da Copa de 2010. Pouco se falou de Jorginho, e pouco deu-se créditos a um técnico que levou uma equipe desacreditada a resultados surpreendentes. Será a força da política no futebol, de novo ?
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~ O Coritiba foi a sensação do primeiro semestre. A invencibilidade do Coxa no ano só foi quebrada no dia 11 de Maio, ao perder para o Palmeiras por 2x0 na Copa do Brasil, no jogo de volta. O campeonato paranaense foi conquistado de maneira invicta, e Coxa humilhou o Palmeiras no jogo de ida da Copa do Brasil, aplicando 6x0 na equipe palestrina. Na Copa do Brasil, um vice-campeonato sofrido. No Brasileirão, a equipe não teve fora de casa a força que tinha no Couto Pereira, e isso custou uma posição além da oitava colocação obtida no Brasileirão.
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~ De longe o pior dos quatro grandes cariocas, o Botafogo chegou a dar alegrias ao seu torcedor em 2011. Com o relacionamento entre Joel Santana e os jogadores (sobretudo Loco Abreu, líder dos atletas) desgastado, Caio Jr. chegou em General Severiano. Com o elenco que tinha, ele foi longe demais. Apesar de um dos melhores meio-de-campo do país, com Marcelo Mattos, Renato, Elkeson e Maicosuel, faltava vontade e espírito vencedor. A bomba veio quando a diretoria demitiu, a três rodadas do final, Caio. O fato ilustra o quanto um momento ruim atrapalha um time, e o quanto o amadorismo de uma diretoria é ainda pior que isso. A nona colocação pegou mal para um time que passou boa parte do campeonato na briga pela Libertadores.
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~ O Vasco ganhou a Copa do Brasil e quase foi campeão brasileiro. O Santos ganhou a Libertadores e preferiu esperar o Mundial de Clubes, no qual foi surrado pelo Barcelona. São maneiras de se lidar com o nacional quando se ganha algum trofeu importante no meio do ano, e não cabe a nós discuti-los. Quem perdeu foi o Brasileirão, que poderia, com o Santos focado no campeonato, ver jogos tão espetaculares quanto o incrível Santos 4x5 Flamengo.
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~ Palmeiras e Grêmio, décimo primeiro e décimo segundo colocados, respectivamente, no Brasileirão, tem análises semelhantes. Times grandes que apostaram alto em projetos (o Palmeiras de Felipão, o do Grêmio na continuidade de jogadores refugos) e naufragaram. Por vezes rondaram o rebaixamento, e terminaram o nacional com uma vaga para a Sul-Americana, o que ficou de bom tamanho perto do desempenho pífio dos dois.
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~ Ano passado, em seu primeiro campeonato de primeira divisão após anos e anos amargando divisões inferiores até em âmbito estadual, o Atlético Goianiense sobreviveu. Suou muito, mas sobreviveu. Esse ano fez novamente um time encardido e difícil de ser batido, manteve alguns bons jogadores da campanha em 2010 (Thiago Feltri, Felipe, Anselmo, Márcio) e foi pra Sul-Americana com sua décima terceira colocação. É importante destacar também que a ascenção meteórica do Dragão, bicampeão goiano, deu-se com a força (econômica e política) de seu presidente, Valdivino José de Oliveira, dos integrantes da bancada da bola no congresso brasileiro. Nunca ouvi escândalos que o envolvam em casos de corrupção, mas é sempre bom ver a relação dele com a política nacional e atentarmos para a política interna do clube.
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~ O Atlético Goianiense tem um tabu interessante: nunca foi vencido por uma equipe comandada por Adílson Batista. Se considerarmos que o técnico dirigiu apenas grandes equipes do futebol brasileiro, como Cruzeiro, Corinthians, Santos e São Paulo, cria-se um fato curiosíssimo no nosso futebol. Os massacrantes 3x0 que o Dragão fez no São Paulo, inclusive, causaram a demissão de Adílson do São Paulo, o que deixa o tabu ainda mais interessante.
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~ O Brasileirão sentiu muita falta do Bahia. Onze anos depois, o tricolor da boa-terra voltou à elite do futebol nacional sem as perspectivas de quando era um grande time. Com a chegada de Joel Santana o Baêa acertou-se e conseguiu ótimos resultados (sobretudo a histórica virada de 3x1 para 4x3 contra o São Paulo, em Pituaçu), que o deixaram na décima quarta colocação, abocanhando a última vaga para a Copa Sul-Americana. Pouco para um time com tanta história e para uma torcida tão fanática, mas anos melhores virão para o tricolor.
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~ Um ano como tantos outros para o Atlético Mineiro. Contratações caras, as ladainhas do presidente Alexandre Kalil, dos mais lunáticos do país, o time esbanjando um dinheiro que ninguém sabe da onde veio, a torcida espetacular lotando o estádio e... nada de título. Vice mineiro, eliminado da Copa do Brasil por um time que nem existe mais (o Grêmio Prudente mudou-se novamente para Barueri) e um décimo quinto lugar que só foi conquistado pois Cuca, na bacia das almas, conseguiu dar alguma cara prum time cheio de bons nomes que, novamente, não funcionaram.
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~ 4 de Maio de 2011. A trágica data para o futebol brasileiro (saiba mais aqui) marcou também o fim do ano do Cruzeiro. Após a eliminação para o Once Caldas na Libertadores após fazer a melhor campanha na fase de grupos, o time entrou em parafuso. Cuca foi demitido, Joel deu algum ânimo (e se não fossem os pontos ganhos por ele a equipe estaria rebaixada) mas saiu logo depois e Vágner Mancini assumiu a bucha. No fim, a raposa ficou na série A, mas Montillo e cia. sabem que todo o segundo semestre foi tão horrível graças ao terrível dia citado.
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~ Na última rodada do Brasileirão, o Cruzeiro ainda corria risco de rebaixamento, e o Galo não. Para espanto de todos, o time celeste desceu humilhantes 6x0 no arquirrival, num resultado no mínimo estranho. Esse foi o último jogo dos gigantes mineiros, tão depressivo quanto o ano que passou.
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~ Definitivamente, esse não foi o ano do Atlético Paranaense. O Furacão se acostumou a começar mal o campeonato e depois reagir, mas em 2012 cabe ao rubro-negro paranaense a disputa da série B com a 17ª colocação no Brasileirão. Com um grupo pouco inspirado, no qual Cléber Santana e Morro Garcia destacavam-se pela letargia, a única coisa que mudou no clube, além da divisão, foi a Arena da Baixada, que começa a ganhar cara de Copa. Além de seu péssimo desempenho, o Furacão teve que aguentar o arquirrival Coritiba indo muito bem o ano inteiro. Como se já não bastasse, o antiquado presidente Mario Celso Petraglia voltou a presidência do CAP, anunciando que a truculência e o jeito amador de dirigir um clube de futebol volta para a parte baixa de Curitiba.
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~ Torci muito para o Ceará escapar da degola esse ano, não nego isso. Mas, não deu. A equipe de bons jogadores, como Osvaldo, Marcelo Nicácio, Geraldo e refugos como Washington e Fernando Henrique era comandada por um técnico que também me agrada, Vágner Mancini. Tudo isso e a ensandecida torcida, que acompanhava o time no alçapão do Presidente Vargas. No fim do campeonato, Mancini foi demitido e Dimas Filgueiras, eterno bombeiro do Vôzão, assumiu, mas não conseguiu segurar a equipe na série A. O Ceará merecia ficar na série A bem mais que o Cruzeiro, por exemplo.
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~ Com todo o respeito, existem equipes que entram na série A sabendo que serão rebaixadas para a série B. Sem uma grande torcida, sem lotar estádios, sem investimento e sem poder jogar em seu próprio alçapão, o que seria do América Mineiro na série A ? Piada. Mas engana-se quem achou que o Coelho ia morrer de joelhos. Mesmo sabendo que o rebaixamento seria inevitável, adorava ver jogos do time mineiro, pois eles se doavam em campo duma maneira incrível. A equipe tinha seus destaques, como os veteranos Fábio Junior, Alessandro, Irênio e Neneca, e bons nomes como Thiago Carleto e Bruno Meneghel, mas era a raça que me encantava na equipe. Com Givanildo Oliveira a equipe teve um grande salto de qualidade, chegando a vencer Fluminense, Vasco e Corinthians, mas era tarde demais. Obrigado pela luta, Coelho, valeu demais.
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~ Após longos anos sem pisar na série A, o Avaí conseguia se manter com alguma folga na série A. Para esse ano, a diretoria do Leão anunciou uma parceria com a LA Sports, empresa que ajudou o Paraná Clube a ir para a Libertadores em 2007, e foi a responsável pela queda para a série B dos paranaenses no mesmo ano. E a empresa também rebaixou o Avaí esse ano, com um time bem limitado e que não foi capaz de despertar a paixão da fanática torcida. Nem mesmo a boa Copa do Brasil deu ânimo para o Avaí, que eliminou Botafogo e São Paulo da competição. Fica a lição: parcerias com empresas parceiras no departamento de futebol tendem a dar errado.
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~ Quem manteve os técnicos ao longo do ano fez bom negócio, se pegarmos as expectativas de cada clube. Quem trocou de técnico (e quanto mais, pior), não fez muito. Tite sofreu com a eliminação precoce na Libertadores, foi mantido e foi campeão brasileiro. Ao invés de correr átras de outro profissional após o triste incidente ocorrido com Ricardo Gomes, a diretoria vascaína apostou em Cristóvão Borges, auxiliar de Gomes, e saiu-se bem. No saldo final do ano, o Coritiba, que manteve Marcelo Oliveira do começo ao final do ano, também teve grandes resultados, tal qual o Figueirense de Jorginho. São Paulo, Cruzeiro, América Mineiro e Avaí amargaram campeonatos ruins, e com técnicos com prazo de validade ínfimo.
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