quarta-feira, 21 de abril de 2010

A data da liberdade

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Como pode uma mesma data, com mais de um acontecimento importante, ser tão representativa para um ideal tão comum: a liberdade ? Essa estranha coincidência marca o 21 de abril. Ao menos eu sempre identifiquei os vários momentos importantes de tal dia como o vôo solitário da águia, observando tudo abaixo de si com maestria e deixando todos os terrestres invejosos diante de tal falta de correntes ligando-a à motivos menores.
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O motivo do feriado nacional vem do falecimento de Joaquim José da Silva Xavier, dos maiores brasileiros que já se teve notícia. Com o arrocho colonial imposto pela Coroa Portuguesa, ele e mais um grupo de mineiros se revoltou. Planejavam a Independência. Foi capturado, traído e enforcado. Seu ideal de liberdade é o nacional, para todos se verem livres de Portugal e iniciarem uma nova nação, um Brasil para os brasileiros.
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Alguns séculos depois, em 1960, um presidente famoso por suas realizações desafogou a antiga Guanabara e adentrou o interior do país. Seu sonho, herdado do patrono da Independência, a liberdade maior, José Bonifácio, estava enfim pronto. E tal projeto tinha nome: Brasília. A capítal federal completa hoje 50 anos, com escândalos de corrupção e um histórico incrível pruma cidade de meio século de existência. O ideal aqui é a liberdade administrativa do país. Tal ideia, no entanto, ficou apenas no projeto, inviabilizando-se num país tão burocrático. Ao menos temos o projeto paisagístico de Niemeyer e Lúcio Costa para vislumbrar, e lembrar com saudade do rock candango, tão forte nos anos 80.
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Brasília viu, inclusive, uma ditadura militar. Apenas 4 anos após ser inaugurada, o exército derruba os civis e toma o poder nacional. Foram anos na qual a própria palavra liberdade só tinha um significado teórico. Coube a outro mineiro, como Tiradentes, acabar com tal sina. Esse era Tancredo Neves. Eleito pelo colégio eleitoral, foi celebrado como o primeiro presidente civil pós-golpe. Porém, mal iniciou seu governo. Com graves problemas de saúde, morreu, justamente, em 21 de Abril. Mais um herói da liberdade, este da política, que tem tal data marcada em sua trajetória.
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A pessoa mais recente a integrar o hall da liberdade é Telê Santana. Sua morte, em 2006, pode não ser tão lembrada como a dos fatos anteriores. Mas é, pra mim, são-paulino fanático e amante do futebol, talvez a de maior importância. A liberdade que ele representa é ampla e abstrata, a liberdade de alegria. Fez o povo se esquecer dos fracassos nas Copas anteriores com duas seleções que, antes de qualquer coisa, dava show. Em 1982, talvez a melor seleção da história caiu ante a Itália. Quatro anos depois, outra excelente seleção perdeu, nos pênaltis, pra França. Com pecha de pé-frio, chegou em 1990 ao São Paulo. Imprimiu seu trabalho sem grandes alardes, e fez o elenco mais vitorioso da história do clube, além de formar um dos elencos mais vitoriosos de todos os tempos, vencendo 10 títulos em 3 anos. Mais que isso, dava espetáculos de rara beleza com o esquadreão tricolor da época. A liberdade de se ver um time que joga pra frente, de forma clássica e bonita, é indescritível.
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Alguns outros fatos marcam o 21 de Abril. A primeira vitória de Senna na F1, no mesmo dia do falecimento de Tancredo Neves, a morte de Juan Antonio Samaranch, ex-presidente e presidente de honra do COI, em 2010. Esse dia é, de fato, iluminado. Seja com inaugurações ou mortes, tudo que nessa data ocorre é histórico.
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