quarta-feira, 1 de junho de 2011

A distorção da palavra cultura

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No dicionário, define-se cultura como " conhecimentos e costumes de um povo ou comunidade ". O dicionário utilizado é brasileiro, mas a definição de cultura pra sociedade brasileira - ao menos pros que tem um acesso de informação maior - é outro. Pra esses mais abastados, cultura é apenas o que é produzido com qualidade, que envolve grande capacidade intelectual e passa alguma mensagem cidadã. Em valores sociais, cultura é algo da classe média que só a classe média entende, uma espécie de código dos bem-aventurados.
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Voltando ao conceito denotativo da palavra, pode-se compreender como cultura tudo o que o povo faz, ouve, fala, escuta e vê. Tudo. Tenha qualidade ou não passe a mensagem que for. É incrível como até conceitos de palavras no Brasil tem intenção de segregar, elevando uns e subestimando outros. Porque Chico Buarque é cultura e Zeca Pagodinho não ? Porque Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil são cultura e MC Marcinho, Almir Guineto ou Katinguelê não ? Todos são ouvidos por um determinado público, por uma cultura diferente. A cultura mais popular é a de Zeca, MC's, Almir e Katinguelê. Essa é a cultura popular. Os outros são cultura da classe média que a classe média tenta vender como cultura. Como a única cultura existente. Excluindo o que de fato é o Brasil.
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Causou polêmica o vídeo que mostra soldados gaúchos dançando uma versão funk do hino nacional. Durante boa parte da introdução eles permanecem perfilados e em continência, mas, após um momento, começa o " pancadão ". Eles, então, começam a fazer os movimentos característicos do funk, dançando cada um por si animadamente.
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Se o vídeo mostrasse os exércitos cantando o hino numa versão feita por João Gilberto, todos aplaudiriam e elogiariam os militares. Se o vídeo mostrasse a cultura da MPB e da classe média, isso não seria desrepeito nenhum. Pelo contrário, seria uma valorização da cultura brasileira. Por tratar-se duma versão funk, estritamente ligadas ao povão, é um ato deplorável de militares que nada tem na cabeça e não merecem vestir a farda das forças armadas. É um bando de boçais que não deveria nem ter nascido.
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Aonde estamos ? Além de fazer uma tremenda injustiça com meninos que, voluntariamente, candidataram-se ao exército, o execram por repaginarem o hino nacional. Sim, repaginarem. Não sou desses alienados que acha que repaginar é fazer uma versão bonitinha e de voz sussurante do hino. A versão funk é o que há de mais popular e nacional no que orbita em torno do nosso belíssimo hino.
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Apesar disso, questiono até onde esse ato dos militares do Rio Grande do Sul é pioneiro. Não em sua essência, mas com base em uma particularidade que atinge o estado. Será que os militares dançariam uma versão funk do hino Rio-Grandense ?
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O ato dos soldados tem que ser visto de outra forma, de fato. Desrespeito a um símbolo nacional ? Pra mim, o desrespeito é o hino tocar em solenidades na Câmara ou no Senado e ver a bandeira nacional na fétida e suja Praça dos Três Poderes. Tirem a bandeira de lá agora. O Brasil é o do funk.

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