Sou duma geração que não viu o Vasco. Que achava que o Vasco era time de meio de tabela, que acostumou-se a ver ao lado dos Figueirenses e Vitórias, e, não raro, via o Vasco flertando com o rebaixamento. Lembro do título brasileiro de 2000 e da inesquecível Mercosul do mesmo ano. Também lembro do cruzamento de letra de Léo Lima na final do carioca de 2003 contra o Fluminense. E não tem mais o que lembrar de títulos recentes do time. Não tinha.
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Se eu não me interessasse tanto por história do esporte bretão, realmente pensaria que a importância do Vasco pro futebol carioca era a mesma do Boavista ou pro futebol nacional era a mesma do Goiás. Nunca me deixei cair nessa balela. É o primeiro time a aceitar negros no Brasil, é o único clube grande da cidade maravilhosa na Zona Norte, não tão maravilhosa assim, e bem mais subúrbio que cidade. O Vasco é diferente, amigo. Ou melhor, gajo, como fala sua até hoje torcida com forte presença da colônia portuguesa.
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Após a saída do pilantra Eurico Miranda, o Vasco sofreu. Passou pela maior vergonha de sua história ao cair pra série B. Uma vergonha necessária, fundamental para reorganizar internamente o clube e remodelá-lo para o futuro, já nas mãos de Roberto Dinamite, atual presidente cruz-maltino. Como havia de ser, o Vasco foi campeão e teve a redenção no Maracanã lotado.
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Faltava um título que não representasse também um acesso. Um título de verdade, sem contestação nenhuma, que confirmasse a eterna verdade, o gigantismo do Vasco. Faltava.
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A espera acabou na noite de ontem. Após um começo de ano claudicante, no qual fez o pior começo de campeonato carioca ( campeonato carioca ! ) da história dos 4 grandes times do RJ, o Vasco deu a volta por cima que precisava. Volta por cima que tem um comandante. Ele que não é tão magistral ou gênio quanto o navegador português que empresta sua fama ao clube, mas é o condutor dum trem bala que despertou na Colina de São Cristóvão. Ricardo Gomes arrumou o time, deu ânimo pra jogadores que tornaram-se importantes e soube extrair o melhor de um time que tinha bons valores, mas não era um time.
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Fernando Prass sempre pegou muito, e continuou pegando muito mesmo após tomar oito gols em quatro dias e dois jogos. O importante é a taça que ele ergueu. Dedé é pedido pela torcida alvinegra na seleção. Bernardo mostrou porque surgiu com tanta pompa em Minas Gerais. Diego Souza, garoto-problema, parece que caiu como uma luva no esquema tático. Alecssandro, refugo, idem. Éder Luis é o trem bala em pessoa, corre e não para. E os bons se encontraram num time, enfim.
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Confesso que apostava no Coritiba. Um time há muito tempo, com bons valores que não deram certo em centros maiores. Édson Bastos, Léo Gago, Davi, Marcos Aurélio, Anderson Aquino, Bill... todos ótimos jogadores. A incrível sequência de mais de vinte jogos ganhando ilustra a união e o espírito coletivo que esse time obteve sob a tutela de Marcelo Oliveira. O Coxa venceu o jogo, fez tudo o que podia e abrilhantou ainda mais a conquista vascaína. Mas o título é do Vasco.
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Na alegria ou na dor, o sentimento não parou. Esse amor infinito voltou a ser campeão, e que volte ao seu trajeto natural de conquistas, como tem que ser. Essa imensa torcida, que nunca deixou de ser feliz, volta a contar de coração o nome do time amado. É o Vasco, dessa torcida tão linda e que nunca deixou de estar ao lado do time, e estará até o fim.
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Parabéns aos vascaínos que tanto sofreram e puderam soltar o grito de campeão da garganta ontem à noite. Boa Libertadores, bom ano e boa volta ao hall de times que disputam os títulos frequentemente. São os votos desse são-paulino que respeita todos os times, mas adora ver gigantes retornando ao caminho das glórias.