sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Briga de empresários e dívidas acumuladas derrubam Figueirense em 2012 ~ Renata Mendonça, para o ESPN.com.br

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Já escrevi aqui sobre as péssimas fases vividas por Vasco e Cruzeiro já no final do Brasileirão. Também falei brevemente sobre o rebaixamento do Palmeiras e postei aqui um texto de Thiago Arantes, da ESPN, sobre a queda do Atlético Goianiense/Atlético-GO. Agora é a vez do Figueirense ter sua situação dissecada por uma jornalista da mesma ESPN: Renata Mendonça
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"O Figueirense começou 2012 cheio de moral pela surpreendente campanha que fez no Campeonato Brasileiro do ano anterior, terminando a principal competição nacional em sétimo lugar e quase alcançando uma vaga na Libertadores. Mas problemas internos, incluindo uma briga de empresários nos bastidores, tomaram conta do clube nesta temporada e acabaram afundando o time catarinense, que agora volta à segunda divisão após ter passado dois anos na elite.

A campanha do Figueirense neste Brasileiro foi completamente oposta à do ano passado: o clube passou mais da metade do campeonato na zona de rebaixamento, já vivendo o drama de uma possível queda. A primeira vez que o time catarinense experimentou uma posição entre os quatro últimos da tabela foi já na 10ª rodada, em 19 de julho, quando perdeu para o Atlético-GO e somou cinco derrotas, quatro empates e apenas uma vitória nos dez primeiros jogos da competição.

Foi exatamente nesta época que começava a estourar nos bastidores a grande crise que derrubaria o Figueirense em 2012. Uma briga entre dois empresários que ‘dividiam’ os poderes do clube com o então presidente, Nestor Lodetti, gerou uma crise política interna que teve sérios e irreversíveis reflexos dentro de campo.

Presidente do Figueirense desde 2010, Nestor Lodetti teve que administrar uma briga de egos dentro do clube neste ano. O mandatário, que contava com o auxílio do empresário Eduardo Uram para tomar conta das contratações do time, viu seu amigo de infância e parceiro de Figueirense, Wilfredo Brillinger, dono da Alliance (empresa contratada para gerir o clube também desde 2010), entrar em conflito com o agente. O motivo? Brillinger também queria ‘palpitar’ nas contratações do clube e não concordava com a autonomia dada a Eduardo Uram.

“Em algum momento, eles [Alliance] passaram a ter muito interesse na operação de jogadores de futebol e queriam fazer tudo na parte de todos os jogadores e ganhar com isso”, explicou Eduardo Uram, em entrevista ao ESPN.com.br.

O dono da Alliance, no entanto, não estava sozinho nessa briga. Junto com ele, Marcos Moura Teixeira - primo do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e então diretor de futebol do Figueirense - também não concordava com a forte influência de Uram nos bastidores.

“Foi uma questão de gestão. Uma gestão que não teve a autonomia que deveria ter tido. Autonomia é como honestidade, ou você tem ou você não tem, não tem meio termo. E estava faltando essa autonomia”, contou Marcos Teixeira, também em contato com o ESPN.com.br.

Por conta disso, Wilfredo e Marcos Teixeira começaram a pressionar o presidente do Figueirense, exigindo que Uram deixasse de fazer negociações em nome do clube. Mas Nestor Lodetti manteve o agente nas negociações e, ao contrário do que os representantes da Alliance haviam pedido, afastou Marcos Teixeira do time - isso porque a relação ruim do diretor com Uram estava afetando também a relação dele com os jogadores do Figueirense, já que a maioria deles pertencia ao empresário ‘rival’.

O afastamento de Marcos Teixeira aconteceu em julho, mesma época em que a crise nos bastidores do Figueirense chegou ao ápice. O time não ia bem em campo e, fora dele, a disputa política passou a ser entre o presidente Nestor Lodetti e o dono da Alliance, Wilfredo Brillinger, que tinha grande importância no clube por ser o responsável pelos investimentos que mantinham o Figueirense vivo. Com o seu homem de confiança afastado, Wilfredo passou a exercer sua influência nos bastidores e chegou a exigir ‘mudanças radicais’ no clube para manter seu dinheiro no time.

Assim, Nestor Lodetti perdeu a força no Conselho Deliberativo e se viu sem saída, precisando abdicar da presidência para que o Figueirense pudesse continuar no futebol. Por isso, o dirigente aceitou a pressão, renunciou ao cargo em setembro e deixou seu vice, Odorico Durieux, na posição até que novas ‘eleições’ definissem seu substituto.

Quem de fato assumiu a vaga, no entanto, foi justamente Wilfredo Brillinger, único capaz de sanar também as dívidas do clube - que já não eram poucas. O agora cartola, que disse ter criado a empresa Alliance só para poder investir no Figueirense, virou mandatário do time catarinense e logo promoveu o retorno de Marcos Teixeira para ser novamente seu braço direito. Com ele de volta, o Figueirense passaria por uma reformulação total ainda no fim de 2012, antes que a queda para a Série B se concretizasse, e ‘apagaria’ quase todos os rastros da gestão de Nestor Lodetti.

O atual presidente do Figueirense, Wilfredo Brillinger, surgiu no clube de forma polêmica. Dono de uma empresa empreiteira em Florianópolis, o empresário criou a companhia Alliance para poder investir no time catarinense, e assinou o contrato de ‘gestão do clube’ ainda em 2010, quando Nestor Lodetti era o mandatário - os dois eram amigos de infância, o que facilitou o 'negócio'. O vínculo, no entanto, foi alvo de polêmica em 2012.

O documento que selava a parceria entre ambos foi revelado pelo site MeuFigueira.com.br e trazia valores no mínimo questionáveis para o negócio: a Alliance se comprometia com o investimento imediato de R$ 500 mil e, em troca, ficaria com 20% da renda bruta do Figueirense - segundo o ESPN.com.br apurou, os R$ 500 mil investidos inicialmente seriam para suprir uma dívida imediata que o clube tinha na época.

O contrato veio à tona justamente quando Brillinger estava se tornando também presidente do Figueirense, deixando o clube nas mãos da empresa. Mas o novo mandatário logo fez questão de vir a público esclarecer que estaria desfazendo a companhia em breve e que o clube andaria a partir de agora sem uma empresa gestora.

“A Alliance foi uma empresa que eu montei por questões legais para ser parceira do Figueirense. Foi uma emergência. A partir do momento em que eu tomei a decisão de deixar meu nome para a presidência, eu me desliguei da empresa e estou extinguindo a Alliance, ela não vai mais existir”, disse, ainda em outubro, em entrevista ao Diário Catarinense.

Até agora, porém, a Alliance continua existindo em Florianópolis. Ainda assim, Marcos Moura Teixeira, ex-diretor de futebol e atual ‘assessor da presidência’, garante que ela já está em processo para ser dissolvida.

“A empresa você não consegue extinguir em 20 dias. Mas ela não tem mais objeto, porque ela foi criada para ser gestora do clube. Agora não vai haver empresa gestora”, assegurou.

Algumas especulações, no entanto, dão conta de que a Alliance continuaria a existir justamente para colocar em prática um dos primeiros projetos que tinha quando iniciou a parceria com o Figueirense: a construção de uma arena para o clube.

Com todos esses problemas internos somados às dívidas acumuladas - estima-se em algo em torno de R$ 12 milhões - e à troca de técnicos excessiva (foram cinco comandantes no ano: Branco, Argel Fucks, Hélio dos Anjos e Márcio Goiano, além do interino Fernando Gil que assumiu nas últimas rodadas), o Figueirense não resistiu à queda para a segunda divisão e ainda ficou com a pior campanha do Brasileirao 2012 - foram apenas sete vitórias em 38 jogos.

E, para a próxima temporada, o clube já está vivenciando uma reformulação total, com a saída de diretores, membros da comissão técnica, do próprio treinador (Adilson Batista assume a partir de janeiro) e também dos jogadores, já que grande parte (senão todos) os atletas que pertencem a Eduardo Uram não deverão permanecer no Figueirense em 2012. Considerado o grande nome do time para esta temporada, Loco Abreu acabou sendo prejudicado por lesões e agora retornará ao Botafogo sem grandes motivos para comemorar."
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