Erro já no começo desse texto. Não dá pra chamar o visto pelos civis à tarde e à noite atualmente de horário político. A denominação correta deveria ser horário da politicagem. A diferença pode ser pequena se levarmos em conta as palavras em si, mas quanto aos significados delas existe um verdadeiro abismo.
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A política é uma ciência, tal qual a economia ou a antropologia. Estuda o poder, sua constituição, bases, fundamentos e afins. Interessa para nós aqui como o homem aproveita-se dela, para se fazer representado, colocar ordem num determinado grupo de pessoas e fazer com que todos, de alguma forma, sintam-se representados.
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Ao menos no Brasil a política sempre foi bem distribuída, e era possível, desde os tempos imperiais, distinguir propostas, grupos, ideias e opiniões. Moderados e exaltados, restauradores e liberais, oligárquicos e burgueses industriais das cidades, queremistas, trabalhistas, progressistas, comunistas... todos esses grupos podiam ser identificados no século dos reis, presidentes e de Vargas. Veio a ditadura e o bipartidarismo. O ARENA defendia os militares, enquanto o MDB os combatia.
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Com a redemocratização a partir de 1982 em eleições estaduais e em 1989 nas eleições a nível nacional, a chamada Nova República prometia uma igualdade política jamais vista no país. Tempos iguais de discurso para cada candidato, visibilidade justa para cada um e uma mobilização comovente de toda a nação ávida pela volta do voto.
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A democracia sobreviveu ao abalo do falecimento de Tancredo Neves e ao mandato de José Sarney, mas a igualdade política foi pelos ares. Nas atuais eleições, vê-se o triunfo da politicagem, a banalização dos candidatos, a falta de propostas concisas e o consenso popular de que " temos que votar no menos pior ".
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Dilma e Serra concentram a imensa maioria do tempo no horário eleitoral. Eles, como todos os outros, fazem programas superficiais, parecidos com vídeos turísticos e mostrando o que já fizeram, e não o que irão fazer. Faltam propostas claras e palpáveis. E, para nosso azar, o cenário presidencial é bem parecido com o ocorrido nas disputas entre governadores e senadores.
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Para deputados, o martírio é grande. Subcelebridades das mais diversas aparecem com slogans e músicas desdenhando de si mesmos, do sistema eleitoral e, porque não, do próprio eleitor. De garotas do funk até comediantes e " personalidades " de baixo calibre, importância e competência para fazer algo digno para todos. Há baixaria moral pra todos os gostos. Os poucos que querem algo sério, e tem oportunidade e capacidade para isso, tem seu tempo diminuto, os obrigando a passar pela não menos humilhante situação de esfregar todas suas propostas em textos de quatro segundos.
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É ridículo falar de novo, mas nada vai mudar enquanto nós, meros civis, agirmos. Mas... quem aje, né ? Enquanto isso achamos graça, e também achamos que " pior do que tá não fica ". Vão pensando assim, comodistas. O inferno tá só começando.