terça-feira, 31 de julho de 2012

Terceiro dia de competições das Olimpíadas de Londres

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~ Mais um dia de decepções no judô. Na chave masculina, Bruno Mendonça tentoi, tentou e tentou, mas foi controlado (e enrolado) pelo holandês Dex Elmont e ficou nas oitavas-de-final. Já Rafaela Silva... bem, dela falarei depois.
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~ Mais um dia ruim para o Brasil nas piscinas. Joanna Maranhão ficou em penúltimo na semifinal dos 200m medley e está eliminada. Nos 200m borboleta, Kaio Márcio e Leonardo de Deus tiveram o mesmo trágico destino. 
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~ As piscinas, porém, trouxeram vários destaques do dia. Destaques pueris mais precisamente, com cara e jeito de quem acabou sair das fraldas. Missy Franklin, com 17 anos e pé tamanho 46, foi ouro nos 100m costas. Ye Shiwen foi mais rápida que o campeão masculino de sua prova, os 200m medley, com apenas 16 anos. E a lituana Ruta Meilutyte, de 15 anos, foi campeão olímpica nos 100m peito.
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~ Nem o iatismo salvou o Brasil. Em duas regatas, um sexto e uma nona colocação afastaram Robert Scheidt e Bruno Prada da liderança. Nas demais categorias, destaque para a segunda colocação de Bruno Fontes na categoria Laser. 
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~ A seleção de vôlei feminino começou jogando muito mal, reagiu no terceiro set e mostrou muitas deficiências ao longo de toda a partida contra os Estados Unidos - jogo que perdeu por 3x1. Tendo Fernanda Garay como destaque positivo e Dani Lins como negativo, a seleção precisa melhorar muito caso queira continuar pensando em medalha. Desse jeito, o bicampeonato olímpico não vem nem em sonho.
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~ O vôlei de praia brasileiro segue invicto. Sem perder um set, Juliana e Larissa venceram as alemãs Katrin Holtwick e Ilka Semmler e Ricardo e Pedro Cunha venceram os britânicos Steve Grotowski e John Garcia-Thompson.
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~ Segundo jogo e segunda derrota da seleção de basquete feminino. As algozes dessa vez foram as melhores (e muito mais altas) russas, por 69x59.
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~ O handebol feminino segue dando as inesperadas alegrias que os demais esportes coletivos do gênero não dão. Novamente vencendo uma seleção mais preparada, o Brasil fez 27x25 em Montenegro.
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~ Um dos choros mais comoventes que eu me lembro de ter visto na vida ocorreu hoje, na esgrima olímpica. A sul-coreana Lam Shin tinha a vantagem do empate contra a alemã Britta Heidemann. Faltando um segundo para o final da luta, um toque duplo - que não dá pontos para ninguém. A luta recomeça no último segundo e a alemã pontua, indo para a final. O staff sul-coreano reclamou muito, mas a decisão foi mantida. Lam Shin saiu desconsolada do combate, chorando copiosamente - e emocionando a todos que viam a cena. 
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SOBRE O CASO RAFAELA SILVA
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Esse caso particularmente me irritou hoje. Logo de manhã, a judoca brasileira lutava contra a húngara Hedvig Karakas e vinha bem. Tão bem que em um golpe súbito deitou a lutadora do leste europeu no chão de costas, aplicando um ippon - o nocaute do judô, que encerra a luta na hora. Porém, ficou muito claro que ela havia pego a perna da húngara, o que é proibido pelas novas regras do esporte. 
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O ippon, obviamente, não foi validado. Mas... o que fariam com Rafaela ? Dariam uma punição ? Pior: ela foi eliminada dos Jogos. 
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Cruel ? Sim, muito. Ser eliminada assim da competição da sua vida é de uma angpustia comparável a morte para um atleta. Só não venham me falar que foi injusto. Isso estava na regra, e todo mundo sabia. Não venham me falar do berço humilde de Rafaela ou do quanto ela é boa atleta. Ela é ótima e sabe disso, mas fez algo proibido pelas regras. Pronto, fim de papo. Fosse ela, a húngara ou qualquer outra atleta, deveria ser eliminada.
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O que me irritou ainda mais no fato foi a defesa que Flávio Canto, comentarista do canal SporTV, fez da judoca. Ele se limitou a dizer apenas que "a regra é injusta". Curioso expor isso apenas quando a brasileira é desqualificada, não é mesmo ? Ele também falou do quanto as regras no judô são interpretativas. A culpada, para ele, não era Rafaela, e sim a regra. A partir do momento que você entra no tatame você está sob um conjunto de regras. Se não quiser sujeitar-se a elas simplesmente não lute. Esporte, principalmente o judô, vai muito da sua capacidade de submeter-se e superar-se. 
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Só pra acabar: Rafaela Silva é a melhor atleta dum projeto desenvolvido na Cidade de Deus, subúrbio carioca, para tirar jovens da marginalidade. Um dos padrinhos desse projeto é justamente Flávio Canto. Ridículo querer defender o indefensável dessa maneira e com esse pretexto, Flávio. Um pai não pode nunca passar a mão na cabeça da filha quando ela erra, mas sim orientá-la. Você a omitiu de qualquer culpa. 
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O comentarista Leonardo Bertozzi, dos canais ESPN, resumiu muito bem o que eu penso. Pouco depois da luta, ele disse algo como "a regra só é boa quando te favorece", com algum outro texto irônico-reflexivo. 
Precisamos parar de achar que brasileiros são santos e prejudicados sempre. Enquanto não termos a lucidez de vermos nossos próprios erros e encará-los de frente não seremos a potência olímpica que podemos ser. 
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