quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Copa tem que dar certo

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Hoje, cerca de 200 mil sul-africanos foram até o centro financeiro da Cidade do Cabo. Não era nenhum protesto político ou ato em memória do fim do apartheid. Era apenas o povo abraçando a seleção de futebol nacional, à pedidos da mídia local. Tal fato poderia passar batido, mas a nação não deixou. Eles agarram a ideia e fizeram um verdadeiro show, que deixou o técnico brasileiro do selecionado a África do Sul, Carlos Alberto Parreira, visivelmente emocionado.
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Não foi apenas a manifestação. Foi a forma de se manifestar. As incansáveis vuvuzelas, os cantos, a ginga, a malícia. A coreografia, inventada no instante, mas tão bem ensaiada. Pra lá, pra cá, um grito, tudo de novo. Simples assim, mas emocionante. Ver pessoas sorrindo, contentes, comemorando algo ainda não iniciado, mas certamente, o maior evento da história do país.
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Ficam as belas imagens, mas também a lição ao tão educado e predestinado povo europeu, colonizador e metropolitano em épocas antigas, que massacrou as minorias e considera apenas o seu semelhante. Não só a lição humanitária, mas a moral também. Sem demagogia antiga e falando como alguém fã do que é bonito: a civilização ocidental é chata. Previível, sem emoção e sem graça.
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Graça, taí o que nos falta, e o que os sul-africanos mostram tão perfeitamente. A graça da dança, da música, dos gestos simples e tão felizes. A voz do âmago, tudo aquilo preso na garganta e falado pelo corpo. Os pés dançantes, as mãos ao céu, o tronco flexível e mobilizado por uma força extraordinária e invisível.
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Essa Copa do Mundo será algo jamais visto. Mostrará a esse povo tão dessaborido o significado da palavra torcer. Os demais apenas acompanham. Sentam em suas confortáveis poltronas nos estádios e olham a partida à sua frente. Torcer é algo bem maior que isso. É cantar, pular, festejar. Ir pra lá, pra cá, movimentar todo o esqueleto. Invocar, em uníssono, raça, vontade ou determinação. Aproveitar cada instante como o último e encara-lo como especial, como ele é. Nas ruas, festejando um gol, em casa com seus amigos, ou no estádio, aos olhos de todo planeta ávido por emoção, pois graça já teremos de sobra com o show africano nas arquibancadas.
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Tal clima parece ter tomado conta das seleções. Holanda e Brasil, todos sabem, jogam com leveza e graça. A Espanha, tão latina e tão amarelona ao mesmo tempo, fez 6x0 na competente Polônia. Até a Inglaterra ( veja ora, a Inglaterra ! ) vem demonstrando graça em suas últimas partidas. Será a Copa da graça, a Copa da África. A Copa. Uma das melhores de todos os tempos.
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