quinta-feira, 16 de julho de 2009

Casos e casos

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Era muito mais que uma final. Era o jogo da vida. Aliás. Aqui entra o primeiro caso. Final da Libertadores não merece clichê. É algo singular demais. E sempre cai na mesmice. Alguns. Caem. O Cruzeiro ? Caiu. Os celestes provocaram. Até aí. Nada demais. Mas não se prepararam caso o contrário acontecesse. O Estudiantes era inferior. É. Realmente. Sabia disso. Respondia cordialmente às provocações. Preparando-se. Deu no que deu.
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A festa estava pronta. Desde quarta. O empate na Argentina. Enche qualquer cruzeirense brioso. O tri estava ganho. Até os atleticanos se conformavam. Bem disse Bob Fernandes. A certeza era tamanha que nem os atleticanos acreditavam no que haviam visto. Era uma cidade pronta para um título. Praticamente ganho. A confiança estava em níveis pouco antes vistos. Tudo bem. De novo. Se você souber trabalhar com isso. Se não. Quando se está nesse nível o tombo é ainda maior.
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Podíamos notar a confiança nas arquibancadas. O Mineirão não estava cheio. Estava abarrotado. Haviam jornalistas argentinos trabalhando na geral do estádio. O primeiro tempo foi tenso. De pouco futebol. De muitas faltas. Jogo truncado. Novamente. Era outro Brasil x Argentina. A torcida fazia barulho. Mas ouviam-se os Pinchas. Cerca de 3500. Contra mais de 60000. O fôlego das chamadas hinchas é impressionante. O jogo era igual. Jogo ? Parecia mais boxe. Outro fato. Indiscutível.
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Saiu o gol. Henrique. De longe. Novamente. Os são-paulinos sabem bem da capacidade rematadora do jogador. A festa foi instantânea. Todos os gritos ecoaram. Todos. Aqueles que nos acostumamos a ver os cruzeirenses cantarem. Agora sim. Era o Mineirão. Era o Cruzeirão. Era a festa. A confiança. Estava tudo azul. Literalmente. Uma festa que só terminaria em Dezembro. No mundial. Em Abu Dhabi. Mas acabou. Antes. Bem antes.
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Seis minutos depois. Sendo mais exato. Fernández empatou. No meio dos zagueiros cruzeirenses. Aproveitando uma saída estranha de Fábio. Outro fato. Não adianta negar. Fábio sempre foi um goleiro mediano. Cheio de altos e baixos. A final mostra isso. Fez uma partidaça em La Plata. E foi mal. No Mineirão. Nos dois gols do Estudiantes. Dois ?
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Dois. Boselli fez o segundo. A partida ficou ainda mais ranhida. O empate acabou com a tal confiança do time celeste. Parecia que haviam perdido o jogo. Já. Ainda não. Verón cobrou escanteio. Ele anotou. De nuca. Sem jeito. Meio de costas. Bola defensável. Muralha ? Virou murinho. Estudiantes. Dois a um. Algo estava estranho. Algo ? Errado. Muito mais que algo. Muito.
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A arquibancada. E a festa cruzeirense ? Onde estaria ? Ruiu. Calou. Silenciou. Desde o gol de Fernández. O time era reflexo da torcida. Havia se calado. O segundo tempo teve trilha sonora castelhana. Se ouvia o grito de Campeón. A canção Pincha. De fato foi um tango. E nessa arte ninguém bate os hermanos. A tal festa acabou mais cedo. Nada mais estava azul. Era alvirrubro o Mineirão. Comentava com alguns atleticanos. Eles falavam que a torcida celeste havia melhorado. Concordei. Mas falei. Muito pouco. Pude notar isso. Ontem. E afirmo. Torcida nas Alterosas é sinônimo de Clube Atlético Mineiro. Sempre.
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O retrospecto. Os argentinos falavam que o Magalhães Pinto era um estádio maldito. Me perguntei o por que. Lembro do ano passado. A Argentina empatou com o Brasil. No Mineirão. Zero a zero. Cantavam Adeus Dunga. A fase era ruim. Péssima. Depois daquele episódio o técnico da seleção deixou de ser questionado. Falando do Cruzeiro. Ano passado eles foram eliminados. Em casa. Por outro argentino. Boca Juniors. A confiança era grande. Também. E caíram. Maldito. Pero no mucho.
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Kléber. Ramires. Os dois grandes valores individuais celestes caíram facilmente. Na catimba. Ramires estava visivelmente nervoso. Era sua última partida. Pelo time que o deu projeção. Internacional. Sentia-se na obrigação de dar a Libertadores. Para a nação. Que não por acaso o chamava de guerreiro. No entanto. O guerreiro virou peixe pequeno. Presa fácil. Isca pincha. Kléber se achava numa imensa piscina. Via um pé. Tropeçava. Caía. Propositalmente. Nada fez. É um grande jogador. Incontestavelmente. Mas provocou. Não sabia o que fazer. Merecia uma lição. Grande. Ela veio. Minha raiva pessoal de tal jogador fora vingada. Ele sempre disse. Iria ganhar. Para os palmeirenses. Parabéns. Os verdes nada mereciam. E ficaram com esse nada. O segundo lugar é o primeiro perdedor. Nada mais perdedor. Kléber. Palmeiras.
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Gérson Magrão. Ádilson Batistas. Quatro nomes. Duas pessoas. O primeiro era contestado. Até hoje. Foi o melhor cruzeirense. Na partida. Correu. Tentou. Participou. Dos poucos que tiveram a cabeça fria. De um campeão. De Libertadores. E Adílson ? Contestado no início de trabalho. Muito. Foi caindo nas graças de quase toda a torcida. Fez o que pode. Pedia calma. Sabia que desespero era arma. Dos argentinos. A coletiva dele foi perfeita. Manteve o pé no chão. Admitia a queda. Mas falava bem. Elogiou a disposição do Estudiantes. Disse que o caminho é árduo. Mas pode voltar. Perfeito. O time do Cruzeiro é muito bom. Está bem átras. Mas pode voltar. Se tiver a calma e a paciência de Adílson. E de Gérson Magrão. Dois exemplos. Que sejam seguidos.
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Estudiantes. Convenhamos. É um time medíocre. Tem um punhado de jogadores. De nível internacional. Verón. Boselli. Andújar. La Brujita teve o controle do time. Do jogo. Jogou bem. Demais. Fez valor o nome de seu pai. Grande ídolo pincha. Entrou para a história. De vez. Feito Boselli. Autor do gol. Do título. Meio sem querer. E alguém liga ? É gol. É título. O tetra do Estudiantes. O 22º título argentino. Na Libertadores. Andújar foi de fato a muralha. Ótimo goleiro. Foi pouco experimentado. Se compararmos com Fábio. Em La Plata. Vale mais não ser testado que ser testado e falhar. Os demais jogadores do plantel argentino eram comuns. Até o técnico. Saavella não montou o time. Apenas o assumiu. Como um qualquer.
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Uma cena me chamou a atenção. A entrega da taça. De Nicolas Leóz. Para Juan Sebastian Verón. A alegria dele. Não. Muito mais que isso. A dificuldade em acreditar que ele ganhou. Não por qualquer demagogia. História. Por seu pai. Nada disso. No fundo ele sabia. O time celeste era melhor. Ele não conseguia compreender. Não foi o Estudiantes que ganhou. Foi o Cruzeiro que perdeu. Tanto que a taça quase caiu. Eles não estavam prontos para tal título. O venceram. E por pouco não passavam vexame. Empataria. O Cruzeiro vexaminou o Brasil em 90 minutos. Eles vexaminariam a competição em poucos segundos.
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Não foi merecido. A Libertadores de número 50 merecia mais. Merecia o melhor. Merecia o Cruzeiro. Mas futebol não é merecimento. É vontade. Eficiência. Time por time. Campanha por campanha. Capacidade por capacidade. Os cruzeirenses mereciam. Demais. Mais que os argentinos. O que vale é o dois por um. Do placar. Um jogador fez Verón no inverno de Belo Horizonte. E um time deu aula de como não se jogar uma final. De Belo Horizonte. Em Belo Horizonte.
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