Se estivesse vivo, Telê Santana completaria 80 anos de vida hoje. Em meio a uma data tão especial e comemorada por quem aprecia o futebol ou apenas é fã de toda uma filosofia de jogo ( que, porque não, se refletia na vida ), é dia de relembrar toda a história e todo o imenso legado dessa verdadeira lenda do futebol mundial.
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Deixo bem claro que, quando eu comecei a ver futebol, o São Paulo vivia a pós-era Telê, recolhendo os cacos do fabuloso time campeão de tudo no início da década de 90. Para a criança de 6 anos que via seu time campeão paulista pela primeira vez, Telê era um nome respeitado pelo pai, e nada mais.
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Com o meu crescente interesse pelo esporte, o mais natural é que eu passasse a me familiarizar com o nome do técnico e começasse a respeita-lo, já que ele comandou o meu time em sua era mais vitoriosa. A partir daí, o normal seria reconhecê-lo como vencedor. Mas não foi só isso que aconteceu. Passei a ver Telê Santana como o maior técnico de todos os tempos, como o maior ídolo da história do São Paulo Futebol Clube e uma das pessoas mais inteligentes do meio do futebol em toda a história. Se ele é ou não é não sei, só sei que, como verdadeiro e grande fã que sou do Fio de Esperança, assim é pra mim.
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Num futebol tão chato, magro e sem emoções como o que temos hoje, no qual partidas por 1x0 são lembradas com saudade pelas novas gerações, invejo o futebol ofensivo que marcou os anos 70, quando Telê começou a treinar clubes de futebol após aposentar-se dos gramados, aonde atuou como ponta-direita em Fluminense, Guarani e Vasco da Gama. Seu primeiro time como treinador foi o Fluminense, time de seu coração e onde tornou-se campeão carioca em 1969, formando o embrião do time que viria a ser conhecido como a Máquina Tricolor.
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Foi então para o Atlético Mineiro, onde tornou-se o primeiro campeão brasileiro da história, em 1971. Tornou-se herói em outro tricolor, o Grêmio, ao impedir o eneacampeonato do eterno rival Inter, em 1977. Após tanto sucesso em clubes de vários cantos do país, chegou sua hora na seleção brasileira. Lá, tornou-se referência em futebol bem-jogado.
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O Mestre era o técnico da seleção brasileira de 1982, que encantou o mundo com um futebol envolvente, bonito, vistoso, clássico e categórico. Perdeu para a Itália graças a genialidade do time de Scirea, Conti, Antoniogni e Paolo Rossi, algoz brasileiro na partida derradeira ao marcar três gols. Ficou a tristeza, mas a certeza de que não faltou raça, vontade, união e uma representação com garra de todo o país - que diferença pra esse tempos, não ? Certamente, umas das seleções não-campeãs que mais marcaram a história das Copas, juntamento com as Holandas dos anos 70 e a Hungria de 54 - e não é demérito nenhum colocar os quatro esquadrões em pé de igualdade, muito pelo contrário.
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Telê tornou-se o primeiro técnico a dirigir a seleção em duas Copas do Mundo ( e até hoje é o único a comandar o selecionado em duas Copas seguidas ) ao treinar a seleção de 1986, menos histórica e pouco menos competente, que ficou lembrada pelo pênalti perdido por Zico contra a França, mas que teve o gol de Josimar contra a Irlanda do Norte e tinha Sócrates, Careca, Branco e outros grandes jogadores. Ao fim da Copa, sentiu que seu ciclo na seleção havia terminado e passou por Galo, Flamengo e Palmeiras antes de assumir o São Paulo.
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O tricolor, destroçado após gastar muito dinheiro e não conseguir grandes conquistas após o Brasileirão 86, precisava de um técnico com visão de futuro. Telê precisava dum time para afastá-lo da pecha de pé-frio. O casamento entre o time e seu treinador protagonizou uma das maiores redenções e uma das maiores apoteoses que o futebol já viu.
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Sob sua tutela, o São Paulo, reconhecido por ter grandes jogadores que nunca tinham explodido, como Raí, Antônio Carlos, Zetti, Cafu e Muller, encontraria um comandante experiente e sereno, capaz de dar a tranquilidade necessária para um elenco que vinha de um bi-vice-campeonato, mostrando que faltava pouco para o time entrar no eixo. Com Telê, entrou.
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Começou ao vencer o Bragantino na final do Brasileirão de 91 - antes que falem " grande coisa ganhar do Bragantino ", era o time, na época, de Carlos Alberto Parreira e Mauro Silva. O resto é história, o bicampeonato da Libertadores e do Mundial, o bicampeonato paulista, a SuperCopa e aquele time que entrou pra história do futebol mundial. Telê, então, mostrou sua veia vencedora, mostrando que de pé-frio ele não tinha nada. Tinha sim de competente, inteligente e profissional.
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Também tinha algumas peculiaridades. como o extremo rigor com seus comandados. Exigia disciplina tática e fora dos campos, tanto que proibia cortes de cabelo exóticos - a história de que Telê forçou Macedo a cortar seu cabelo pouco comum é clássica. O Mestre também foi um dos primeiros técnicos a lutar pelos direitos de seus jogadores, chegando a pedir para a diretoria do Fluminense deixar os jogadores entrarem pelo portão principal do clube das Laranjeiras. Com o pedido negado, ele mesmo entrou pela porta do fundo, pulando o muro já que não havia ninguém no local. Telê também era frequentemente visto acompanhando jogos de outros esportes, como basquete e vôlei, para abstrair um pouco desses no futebol.
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Morreu em data de feriado nacional. Morreu no aniversário da capital do país. Morreu no mesmo dia de Tiradentes e Tancredo. Mas, pra mim, dia 21 de Abril sempre vai ser dia de Telê Santana.